A CORRUPÇÃO NO BRASIL: REVISITAR A HISTÓRIA RUMO AOS DESAFIOS DE UMA SOCIEDADE PLURAL E DEMOCRÁTICA

  • Maria Fernanda Dias Mergulhão Universidade Cândido Mendes

Abstract

A Corrupção passou a ser tema de interesse de todas as classes sociais no Brasil e ganhou largo debate nos amplos canais de comunicação, principalmente nas redes sociais e grande mídia. Integra o estudo sistematizado dessa temática apontar possíveis causas de sua origem, apresentar sua historicização, como forma de melhor compreendê-la. Ao analisar a corrupção, surgem questões inerentes à identidade e cultura de um  povo. Nesse contexto, atribuir a corrupção brasileira a uma vertente política de direita ou esquerda é forma simplista e imediata que oculta o enfrentamento da corrupção sistêmica na sociedade brasileira.                 A partir do marco civilizatório no Brasil, no período colonial, a miscigenação de raças e etnias e, por consequência, a mistura de culturas distintas, associada à colonização de exploração e o longo período de escravidão, são fatores relevantes na proposta de perquirir a origem da corrupção. Nesse período histórico é possível constatar a tolerância, e mesmo conivência, da população frente aos desmandos e irresponsabilidades dos representantes públicos sem que os papéis de cada qual na sociedade fossem definidos e assimilados. Tratava-se de um Brasil em formação. A sociedade ter se formado antes do Estado, indubitavelmente, foi um fato político-cultural de grande peso para explicar a corrupção brasileira dos tempos atuais.                 Ingressar na cultura portuguesa, e na cultura africana, grandes pilares na formação do povo brasileiro, é ponto muito importante para entender o fenômeno da corrupção a partir do marco civilizatório brasileiro. Importante mencionar que o conceito de corrupção do Brasil industrializado e globalizado, na era da robótica, não é o mesmo do período colonial. A forma de Estado e a forma de governo-, república e sistema presidencialista, a cidadania em evolução, e o grande impacto provocado pela tecnologia nas relações sociais, são fatores que impõe adotar uma análise ontológica da expressão “corrupção” para, a partir daí, constatar práticas corruptivas no período colonial. Nepotismo, burocracia como fim em si mesma favorecendo casuísmos e a pessoalidade no tratamento, terreno fértil para práticas corruptivas, além das redes clientelares alimentadas pelos mandonismos e individualismos, que hoje se traduzem por exageradas doses de paternalismos (assistencialismos), não fomentando o desenvolvimento sóciocultural do povo brasileiro, são práticas que perspassaram séculos em território brasileiro. Perquirir o início de tudo é de suma relevância para compreensão do fenômeno, de matiz cultural, e fundamental para reconhecer a identidade desse povo que tanto se envolve nos círculos viciosos, reiteração de condutas corruptas, incompatíveis nas sociedades modernas e prósperas, como pretende ser a sociedade brasileira.

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Published
2022-01-04